terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Dito I

Um dia eu pude sentir o vento em nossas pernas ouriçadas. Aquela areia fofa, aquele mar que desaguava em meu leito, adormecido. Em explosão de ardor, eu e você fizemos amor, cantamos uma ópera solene na beira do mar, e Iemanjá acenou e nos deu bênção. Ao amanhecer, me vi sozinha. Andei a beira, procurei, e revivi os segundos de outrora. Nesse mesmo instante, resolvi não ser de ninguém, só do meu prazer. Vou sentir o meu gozo, o meu corpo e de outro, só não entregaria mais o meu peito, os meus jeitos, os meus medos, o meu ser. Ele arrancou de mim o que mais feliz eu tinha. Eu amei aqueles cabelos compridos. Eu amei seu toque, seu abrigo. Agora sinto ódio. E se vier a vê-lo outra vez, usarei de suas próprias artimanhas e vou levar, arrancar e estraçalhar como um cão ferido o que restou do seu peito. Me ganhe, me banhe mar. Limpa essas feridas em mim.

Bia Magalhães

Nenhum comentário:

Postar um comentário