Um
dia eu pude sentir o vento em nossas pernas ouriçadas. Aquela areia fofa,
aquele mar que desaguava em meu leito, adormecido. Em explosão de ardor, eu e você
fizemos amor, cantamos uma ópera solene na beira do mar, e Iemanjá acenou e nos
deu bênção. Ao amanhecer, me vi sozinha. Andei a beira, procurei, e revivi os
segundos de outrora. Nesse mesmo instante, resolvi não ser de ninguém, só do
meu prazer. Vou sentir o meu gozo, o meu corpo e de outro, só não entregaria
mais o meu peito, os meus jeitos, os meus medos, o meu ser. Ele arrancou de mim
o que mais feliz eu tinha. Eu amei aqueles cabelos compridos. Eu amei seu
toque, seu abrigo. Agora sinto ódio. E se vier a vê-lo outra vez, usarei de
suas próprias artimanhas e vou levar, arrancar e estraçalhar como um cão ferido
o que restou do seu peito. Me ganhe, me banhe mar. Limpa essas feridas em mim.
Bia Magalhães
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